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Rotina do Arquivo demanda versatilidade dos funcionários

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Um olhar para os bastidores da instituição que detém grande parte do patrimônio documental


Por Giovanna De Luca e Luanna Lino


A restauração de um documento pode durar até um mês. Saiba o que acontece dentro do Arquivo Nacional e de que forma os funcionários realizam o trabalho. O supervisor da equipe de pesquisa da Instituição e editor da Revista Acervo, Thiago Mourelle e o arquivista, especialista em preservação audiovisual e digitalização de acervos, Mauro Domingues contam que o segredo para a manutenção do trabalho está na multidisciplinaridade e na formação contínua.


São 184 anos de história! Em todo este tempo, o Arquivo Nacional não mediu esforços para preservar a memória nacional e auxiliar na administração pública federal e se consolidou como a principal instituição arquivística do país. O acervo acopla documentos importantes para a história do Brasil, visando garantir a integridade das peças, grande parte fica trancada em cofres e apenas as réplicas são disponibilizadas para consultas. Dentre os arquivos estão: a Carta que elevou o Brasil à Reino Unido de Portugal e Algarves, o Juramento de dom Pedro I à Constituição de 1824 e A Lei Áurea, sancionada no dia 13 de maio de 1888.


Funcionários do Arquivo Nacional trabalhando nas dependências da Instituição. Fotografia de janeiro de 1941. Arquivo Nacional.


Mourelle conta que com o passar dos anos, o número de arquivos aumentou e a demanda para os funcionários também. Atualmente, 460 servidores públicos trabalham na AN, eles estão lotados entre a sede no Rio de Janeiro e a Coordenação Regional em Brasília - além de funcionários terceirizados que atuam nas áreas de informática, logística e segurança patrimonial.


- São aproximadamente 60 quilômetros de documentos textuais, cerca de 2 milhões de fotografias e negativos, 200 álbuns fotográficos, 15 mil diapositivos, 4 mil caricaturas e charges, 3 mil cartazes, mil cartões postais, 300 desenhos, 300 gravuras e 20 mil ilustrações, além de mapas, filmes, registros sonoros e uma coleção de livros raros que supera 8 mil títulos – contou Mourelle.


Mourelle reitera a importância do caráter multidisciplinar para qualificar o trabalho. Equipes de diversos núcleos são responsáveis pelo setor de restauração e digitalização de documentos antigos. Os núcleos se misturam justamente por conta da demanda de funções que cada documento exige para se enquadrar dentro das normas do AN. Ele explica que a duração do processo de preservação varia por conta da demanda que cada documento exige, pode demorar uma semana ou um mês para finalizar uma restauração. Para reconstruir, é preciso desmontar documentos e o trabalho exige cuidado e tempo.


- Todo arquivo recebe um código de referência e o primeiro passo para a restauração e digitalização é numerar todas as páginas com este código. O próximo passo é descosturar o documento e segmentar as folhas. Depois, página por página é digitalizada seguindo o padrão da legislação, até as partes em branco são reproduzidas. Além disso, exige o trabalho de um químico da Instituição que produz o papel com as mesmas características do documento original. O próximo passo é conferir se houve algum erro de digitalização, após revisado, ele é reconstruído e passa por mais uma correção, desta vez para checar se as páginas estão em ordem. Após a última emenda, o trabalho está finalizado e o documento é guardado – esclarece o arquivista.


O caráter multidisciplinar da instituição e processo desafiador é algo envolvente para os pesquisadores da Instituição, é o caso de Mauro Domingues. Há dez anos, o arquivista atua na digitalização de acervos e através das formações oferecidas pelo Arquivo, se especializou em preservação audiovisual. Contribuem com a Instituição profissionais de história, arquivologia, ciências sociais, letras, jornalismo, administração, biologia, química, engenharia florestal, meteorologia dentre outras áreas técnicas ligadas à conservação e preservação do acervo.


A formação primária do funcionário muitas vezes não é suficiente para a demanda do trabalho, visando o elevado nível de qualificação dos funcionários, a AN oferece cursos e formações para eles. Esta especialização contínua é vital para que eles possam assumir posições estratégicas dentro dos processos trabalhistas. Atualmente, as capacitações foram divididas em três módulos: básico, intermediário e gerenciamento em Serviços Arquivísticos.


- Em uma parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e com a Universidade Federal Fluminense (UFF), o Arquivo desenvolveu três cursos on-line para servidores públicos que trabalham em arquivos. O AN identificou que muitas pessoas que atuam ou desejam atuar em arquivos nos órgãos públicos, não possuem graduação em Arquivologia. Assim, os cursos abarcam desde servidores que não possuem nenhum conhecimento em arquivologia, até especialistas na área. A equipe de instrutores serão os técnicos e especialistas do Arquivo - informa Domingues


Domingues faz um adendo importante e ressalta que nos últimos anos, apesar dos esforços, a Instituição vem passando por um desmonte. Por conta da rotina especializada, a demanda por qualidade e investimento é grande e durante o processo de mudanças do Arquivo, a administração vigente não entende a potência da Instituição.


Faixa do ato em prol da defesa do Arquivo.


- Nem tudo são flores! Nosso trabalho é fundamental, mas não tem sido levado a sério. Os arquivos têm papel fundamental na rotina de trabalho das organizações, no processo de tomada de decisão de seus usuários, na cultura e na história organizacional, a Instituição precisa voltar a ser valorizada pelas políticas públicas - constata o funcionário.

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