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Documentos do Arquivo Nacional revelam que Brasil teve a sua própria Área 51

labjornalismo7h

Atualizado: 29 de jun. de 2022

Por Guilherme Braga e Nicholas Simões


Em plena ditadura, os militares admitiram publicamente que o Brasil foi invadido por mais de 20 objetos não identificados que sobrevoaram a Região Sudeste. O caso aconteceu em 19 de maio de 1986 e ficou conhecido como “A Noite Oficial dos Discos Voadores'', por que foi abertamente divulgado por autoridades da aeronáutica à mídia, logo após o ocorrido. Junto com um relatório sobre o caso foram expostas 16 fitas de áudio com gravações das conversas entre pilotos e torres de controle relatando o acontecimento ao vivo. A noite do ocorrido agiu como um divisor de águas na ufologia brasileira, graças a todos esses relatos oficiais, que por sua vez, estão abertos ao público dentro de uma das mais acessadas páginas no acervo digital do Arquivo Nacional, o Fundo Dos OVNIs.


Numa época em que não existiam drones como a gente vê hoje, essas luzes deram um baile, fizeram looping, deram a volta nos caças, fizeram várias manobras arriscadas que até hoje a gente não tem máquina que faça. Então isso prova de uma vez por todas que existe algo desconhecido.- Acredita Cristiano Zoucas, um dos criadores do Hangar 18, um podcast sobre ufologia e casos fora do comum, criado em 2018.


Documentos relacionados à Noite Oficial e muitos outros casos foram liberados a partir de 2007 até 2016, pela Aeronáutica, graças a uma campanha liderada pela Comissão Brasileira de Ufólogos e a Revista UFO. Apesar do pouco destaque na mídia, o conteúdo desses papéis é de enorme relevância, para tirar o tema dos OVNIs de um lugar de especulação e pura fantasia. Resta apenas saber o que esses relatos significam e é esse ponto que dificulta o estudo e a publicização por parte da grande mídia.


"O governo esconde o que não sabe" é a conclusão que chegamos ao falar com o colunista da revista UFO e um dos fundadores da Coalizão Internacional para Pesquisas Extraterrestres (em uma tradução livre), Ademar José Gevaerd sobre as mais de vinte mil páginas de documentos que estão expostas no acervo do arquivo nacional em brasília, e no acervo digital acessível pelo portal do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN). Mesmo que pareça ser muito, segundo Gevaerd registros do fundo mostram que o Brasil pesquisa discos voadores desde 1954, e o país foi também o primeiro a liberar documentos oficiais sobre o assunto dessa forma.


O conteúdo do arquivo mostra, por exemplo, que existiu no Brasil um órgão, que era especializado nesses fenômenos e supostos relatos paranormais, de origem extraterrestre, que aconteceram na década de setenta chamado de SIOANI, (Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados). Esse órgão foi criado pelo Comando da FAB (Força Aérea Brasileira), coordenado pelo major Gilberto Zani de Mello, e funcionou durante três anos, de 1969 a 1972. Ao longo de seu período ativo, a SIOANI analisou centenas de casos envolvendo supostos objetos voadores e testemunhas que afirmaram ter interagido com seres extraterrestres. Diferente de seus companheiros, em plena ditadura militar, o major Zani de Mello, estava mais preocupado em perseguir seres de outro planeta e interrogar aqueles que os haviam avistado do que comunistas e estudantes universitários. Segundo uma matéria publicada pela revista UFO, dos mais de mil documentos produzidos pelo órgão, 28 têm relatos com descrições e esboços, inclusive coloridos, de OVNIs observados em várias partes do país, estão contidas também 64 fotos de testemunhas, seus locais de avistamento e imagens de radares. Eles também contém dezenas de cópias preenchidas de uma ficha padrão que relatam e descrevem avistamentos de "Tráfego Hotel", eufemismo usado pela força aérea que significa literalmente OVNI. Além de, um manual do consulado brasileiro em Londres sobre como investigar fenômenos aéreos não identificados. Ou seja, de forma jocosa, podemos dizer que o Brasil já teve seus próprios “homens de preto”, como visto no famoso longa-metragem, estrelado por Will Smith, em 1997.


Através das grandes produções de ficção hollywoodianas por mentes como, Ridley Scott, George Lucas e Steven Spielberg, nosso imaginário foi condicionado a limitar o tema de aterrissagens e aparições extraterrestres, a solo americano.

[Meu interesse pelo tema surgiu] em 1982 quando assisti o filme E.T, no cinema” nos contou Fernando Ribas, artista 3D, formado em Game Art, e o segundo membro do Hangar 18. Pode-se dizer que a década de 80 foi a era das produções hollywoodianas de ficção científica. E.T foi um dos clássicos, do gênero, que marcou gerações, junto com Star Wars, Aliens, Predador, Star Trek, entre muitos outros.


Cristiano Zoucas também afirma ter tido seu imaginário contagiado pelas histórias do cinema americano:


Fui aficionado pelo tema desde criança por conta do meu avistamento. Mas sempre gostei de filmes, sempre gostei muito de Star Wars, sempre fui muito viciado nessa temática e em tentar responder aquela pergunta; será que estamos sozinhos no universo. - Comenta

Não faltam referências estrangeiras tanto no mundo do cinema como no imaginário popular quando o assunto é seres extraterrestres. O próprio nome do podcast, Hangar 18, surge em menção à uma suposta área confidencial, na base aérea de Wright Patterson em Ohio, onde é especulado que tenham sido levados os destroços do famoso “Disco Voador de Roswell”,uma das muitas histórias repercutidas sobre o tema, nos EUA. Apesar da carência de longa metragens nacionais, onde naves espaciais sobrevoam o Palácio do Planalto ou seres verdes e não identificados pedem instruções no Posto Ipiranga, o tema de aparições de OVNIs, no Brasil, está entre os mais pesquisados do Arquivo Nacional. Em Brasília ele é o mais buscado, mas em outras capitais ele compete pelo primeiro lugar com os arquivos da ditadura. A procura é tanta que o internauta curioso por esse tema tão controverso e peculiar, pode encontrar instruções de como consultá-lo, através de um vídeo publicado pelo próprio órgão, em seu canal no Youtube.


E o acervo é citado constantemente como fonte quando o assunto é Ufologia. O próprio co-editor da UFO, Thiago Ticchetti, cita em entrevista que qualquer ufólogo sério precisa ter o arquivo como referência, e que ele mesmo confere a página online uma vez por semana. E além do valor profissional é uma fonte riquíssima para qualquer um que, ao menos, se interesse pelo tema.


Com a oficialização desses documentos do acervo pela FAB, sua divulgação para o público, além da natureza curiosa do ser humano e as diversas menções do assunto na cultura pop, era de se esperar que o número de visitas no Arquivo fosse grande.


- Acredito que atualmente o interesse vem aumentando justamente pela movimentação em torno do tema, que vem se tornando cada vez mais popular. E também a curiosidade que o assunto traz.- Afirma Fernando Ribas.


Já Cristiano, atribui essa curiosidade do povo brasileiro pelo tema ao sincretismo religioso no país:


Eu acho que o brasileiro é um povo curioso por natureza. Um povo que de certa forma tem muita crença, muita fé, e acho que por isso que gostam de saber o que existe além daqui, para onde nós vamos e de onde viemos - Diz ele.


Pode-se dizer que o Arquivo supre essa falta de conteúdo fictício “local”, sobre o tema, e alivia essa “coceira” que acompanha a curiosidade humana. Porém esse acervo trata do assunto com uma seriedade e oficialização que não se encontram na pura imaginação de diretores norte-americanos. Mesmo que nenhum documento, sobre esse tópico, tenha sido adicionado ao fundo desde 2016, ele é a fonte principal de informação sobre casos de relevância internacional. É esse tipo de acervo que facilita separar o que é real de o que é especulação. Segundo Ticchetti todo o documento que chega ao arquivo é analisado em sua origem, ou seja, pela marinha, força aérea, e órgãos de inteligência.


De acordo com Gevaerd, o governo dos EUA começou gradualmente a admitir a existência de discos voadores UAP (fenômenos aéreos não identificados), somente a partir de 2017. Além de grandes revelações feitas através de uma série de vídeos liberados pela marinha norte-americana em 2020 e 2021, cuja autenticidade foi confirmada pelo Pentágono. Por outro lado, como visto anteriormente, a FAB já havia admitido isso publicamente, no final da década de 80 e disponibilizado ao público esse e muitos outros relatos, desde 2007. Ou seja, já é um tema oficialmente discutido a muito tempo no Brasil. Entretanto, boa parte do mérito ao tratar de avistamentos de OVNIs e relatos de aparições extraterrestres é dado aos norte-americanos.

Apesar de os EUA nos vencer em relação a quantidade de ocorrências e relatos, o Brasil ganha primeiro lugar no pódio quando o quesito é a peculiaridade desses eventos. Nas palavras de Cristiano Zoucas, do Hangar 18, o Brasil é “um celeiro de casos incríveis''.


Um dos países com os casos mais curiosos e pitorescos é o Brasil. - Cristiano Zoucas

O podcaster nos contou que um dos episódios mais marcantes que ele e sua dupla, Fernando Ribas, cobriram no Hangar 18, foi o do caso Maria Cintra ocorrido em Lins -SP, em 25 de agosto de 1968. Maria Cintra era funcionária do Sanatório Clemente Ferreira e relatou ter tido um contato imediato de 3º grau durante a madrugada. Ao escutar um barulho estrondoso, Maria acordou e olhou pela janela, vendo uma mulher de altura média, clara e de olhos verdes. Com seu instinto hospitaleiro, encheu uma garrafa d'água no bebedouro, do sanatório onde trabalhava, e ofereceu a figura misteriosa, que por sua vez em gesto de agradecimento teria bebido a água e partido no que, pela sua descrição, se assemelha a um OVNI. O caso teve grande repercussão nacional e até mesmo internacional.


São vários episódios que a gente se orgulha muito de ter feito. Mas o primeiro que me marcou foi o Caso Maria Cintra, também chamado de Caso Linz. Justamente porque existe o áudio da testemunha, onde ela conta o que aconteceu com ela. E é impossível você achar que aquilo dali é mentira. A maneira como ela conta , a simplicidade, uma certa inocência que transparece na voz dela. Então eu acredito que o que aconteceu com ela foi real sim. - Diz Cristiano Zoucas.


O Brasil tem diversos outros casos famosos documentados e de acesso ao público. O caso Papuda, onde um OVNI teria sobrevoado um presídio federal no DF, e o caso Varginha que ficou conhecido por causa da descrição que as jovens protagonistas fizeram de uma criatura que elas associaram a uma figura demoníaca, por exemplo.


Pode se dizer que as características absurdas e um tanto cômicas desses avistamentos, são ironicamente apropriadas levando em consideração a tendência do povo brasileiro de não levar a sério, qualquer coisa que por outros poderia ser visto como ameaça.


Mesmo com todo esse conteúdo disponível e o tema ficando cada vez mais relevante, a grande mídia ainda trata o tema com muito desdém, nas palavras de Gevaerd. A verdade é que os veículos pequenos e mídias locais levam o assunto bem mais a sério. E isso tudo dificulta ainda mais a pesquisa. Ainda assim, para a população geral esse assunto está cada vez mais longe de ser ficção científica. Um exemplo disso é a audiência pública que acontecerá no senado neste dia 24 de junho sobre ufologia. É na forma de pequenas mídias, blogs e podcasts que a ufologia tem ganhando cada vez mais público e com isso também tem sido levada mais a sério, se baseando em métodos científicos e cada vez mais coletas de dados oficiais para trazer o assunto para a luz.

Relatório do COMDABRA referente a relatos de aparições de OVNIs até março de 2000. Foi um dos documentos liberados ao público através do Arquivo Nacional

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