Por Giovanna Temido.
Fundada em 8 de março de 2022, a Casa de Referência Almerinda Gama tem como objetivo acolher mulheres ao serem retiradas de um cenário de violência. Nas palavras da Coordenadora nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário e integrante da Casa de Referência Almerinda Gama, Gabriela Gonçalves, a homenagem à Almerinda é uma tentativa de resgatar mulheres importantes na história do Brasil ainda pouco conhecidas.
- Almerinda lutou por melhorias sindicais, participação política e o voto feminino, além de ser uma das pioneiras da participação de mulheres negras e nordestinas na política.
A ideia da Casa surgiu em meio às ocupações estudantis de 2016, em Belo Horizonte, organizadas pelo coletivo feminista Movimento de Mulheres Olga Benário (MMOB). Após uma das integrantes ter sido vítima de feminicídio, entrou em pauta a urgência de espaços de acolhimento e proteção onde mulheres violentadas pudessem ser socorridas de forma empática por outras mulheres. Apesar do funcionamento de delegacias especializadas, as vítimas precisavam de lugares para se estabelecerem ao saírem de suas casas.
Abertura da Casa de Referência Almerinda Gama, 2022.
Para a pesquisadora e professora de História do Brasil na UnB, Teresa Cristina de Novaes, a escolha do nome da Casa é mais que uma homenagem, é um vínculo de pertencimento e identificação com a história de Almerinda. Pouco reconhecida por sua participação na luta sufragista, Almerinda até então não era um nome debatido no círculo social. Teresa ainda afirma que o surgimento da Casa e a escolha de seu nome reafirmam que a urgência do movimento feminista não se dá para as próximas gerações apenas, mas para vidas dignas desde já.
- A luta feminista nunca se deu por um futuro melhor, mas para um presente melhor.
A integrante da Comissão Organizadora da Conferência Nacional de Políticas para Mulheres do governo federal em 2004, 2007 e 2016 e autora do Dicionário Mulheres do Brasil, Schuma Schumaher, está há 40 anos no ativismo feminista e considera a iniciativa do acolhimento existente no movimento de hoje uma herança do feminismo do passado. Schuma conheceu pessoalmente Almerinda em 1997, no desenvolvimento do projeto “Mulher 500 anos atrás dos panos”.
- Foi muito emocionante estar com ela, conhecer a vida dela a partir de sua própria fala. Na hora de escolher quem representaria o sindicato das Taquígrafas e Secretárias, maior sindicato feminino, escolheram a Almerinda Gama. Tem uma foto linda dela colocando o voto na urna. É o primeiro gesto, é um gesto muito forte, é o depósito da cidadania, da nossa luta. Tem uma representação simbólica muito forte para as nossas vidas.
Na Casa de Referência Almerinda Gama, localizada na rua da Carioca, 37, são produzidas cartilhas e panfletos informativos sobre o movimento e sobre o que as mulheres podem fazer em caso de assédio e violência doméstica, tanto em formas de reconhecer os casos quanto como denunciar. Além disso, as voluntárias fazem a busca por psicólogas e assistentes sociais que possam auxiliar gratuitamente ou por um preço social as vítimas.
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